José Pastore
Esta é uma história verdadeira. Tenho um grande amigo, brilhante Ph.D. em Economia, que acaba de se aposentar num banco internacional. Ainda jovem (58 anos), recebeu um convite para integrar o corpo docente da Universidade da Malásia, em Kuala Lumpur, onde esteve para a entrevista inicial. Ele teve um choque ao conhecer a carga de trabalho que o aguardava: dois cursos por semestre (cerca de cem alunos por classe), corrigir as provas, orientar dez estudantes de pós-graduação e publicar dois "papers" por ano em revistas de alto conceito internacional. Remuneração: equivalente a R$ 6.500 por mês, sem 13.º salário ou abono de férias e nenhum benefício adicional, exceto uma pequena ajuda para moradia. Sendo ele um pesquisador sênior, delicadamente recusou o convite. Mas concluiu que, na Ásia, o conhecido rigor que é usado para recrutar e remunerar a força de trabalho industrial é utilizado também para o caso de professores. E que dezenas de Ph.Ds. talentosos aceitam com prazer as referidas condições.

Isso explica o salto daquela universidade ao passar recentemente da 230.ª para a 180.ª posição no ranking das melhores do mundo. A produção acadêmica asiática está prestes a superar a ocidental. Na última década, os cientistas chineses quadruplicaram o número de "papers" publicados nas melhores revistas do
mundo. É uma corrida alucinante para formar novos talentos. A China envia cerca de 100 mil jovens todos os anos para fazer estudos de graduação e pós-graduação nos EUA. O mesmo ocorre com a Índia (Institute of International Education, Report on International Educational Exchange, 2009).

Além disso, os dois países estão promovendo um rápido repatriamento dos seus cientistas. Em 2009, Shi Yiong, prestigiado professor de biologia molecular da Universidade de Princeton (EUA), voltou para a China, dispensando uma verba de US$ 10 milhões que tinha para tocar suas pesquisas. Em 2007, Rao Yi, biólogo de alta reputação na Northwestern University, renunciou à cidadania americana (!) e assumiu a direção da Faculdade de Ciências da Vida na Universidade de Pequim. Na mesma época, o pesquisador Wang Xiandong deixou a Faculdade de Medicina da University of Texas Southwestern e foi dirigir o Instituto Nacional de Ciências Biológicas, também em Pequim (Fighting Trend: China is Luring Scientists Home, The New York Times, 6/1/2010). A China e a Índia estão oferecendo prêmios sedutores para quem tem experiência com a pesquisa ocidental. Tudo isso para queimar etapas e fortalecer o principal alicerce do desenvolvimento econômico - o conhecimento. Na educação, a corrida é em relação a um ponto móvel. Isso significa que,
por exemplo, enquanto o Brasil avança 10%, a Malásia, a Índia e a China avançam 20% ou 30%. As diferenças aumentam.

Nessa maratona alucinante estamos na rabeira. O Brasil forma 40 mil engenheiros por ano. A China forma 300 mil. O Relatório de Monitoramento Global - Educação para Todos (Unesco, 2010) colocou o nosso país no 88.º lugar entre 128 nações, uma posição desconfortável para quem pretende ser uma potência regional ou mundial. Com todo o respeito, estamos atrás até do Paraguai. O Brasil continua exibindo um dos mais altos índices de repetência escolar (19%). Menos da metade dos jovens está no ensino médio e apenas 13% chegam ao ensino superior. A força de trabalho do Brasil tem apenas sete anos de escola, em média, e má escola. A da Coreia do Sul tem 11 anos de boa escola. Em 2009 "sobrou" 1,7 milhão de vagas no Brasil por causa da falta de qualificação dos candidatos. Não é para menos. A maioria dos estudantes que chegam à 8.ª série não entende o que lê e mal domina as operações aritméticas. Temos de melhorar muito a qualidade do nosso ensino. Para tanto, precisamos de governantes com mentalidade de estadistas, que valorizem a educação e que sejam capazes de envolver toda a sociedade nessa sacrossanta empreita.
Fonte: Estadão

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