Há 150 anos, ao imaginar como seria a viagem do homem à Lua, o escritor Júlio Verne acertou quase na mosca três palpites: o primeiro voo sairia do estado norte-americano da Flórida, demoraria três dias para chegar ao destino e cairia no mar ao voltar à Terra. Tentando seguir seus passos, o físico teórico Michio Kaku também tenta adivinhar como ideias vindas da ficção científica, como colonizar galáxias distantes, seriam possíveis.
"O nosso desafio é mostrar para as pessoas como os conceitos científicos que vão governar o futuro no espaço podem ser compreendidos hoje mesmo, por qualquer pessoa", afirma o cientista norte-americano de 64 anos, cocriador da teoria das cordas -- agora, apresentador do programa "Física do Impossível", no canal de TV a cabo Discovery Science.
"A ficção talvez seja a maneira mais simples de fazer as pessoas se interessarem por ciência", afirma Kaku.
Especializado em teoria das cordas - campo da física que enxerga os átomos como se fossem "fios" extremamente pequenos e oferece uma nova interpretação para como o espaço e as coisas se comportam -, o cientista usa o conhecimento disponível atualmente no mundo da física e tenta aplicá-los para explicar como seria possível captar mais energia das estrelas ou mesmo povoar o espaço.
Ao ser lembrado sobre como ideias como essas parecem estar distantes da realidade, Kaku cita o exemplo de Verne. Para o cientista, o escritor não contava com o dom de premonição e mostrou como ideias estranhas durante uma época podem apontar corretamente o futuro.
"Como ele conseguiu saber tudo isso? Não pode ser pura especulação. Ele conversava com cientistas e conseguiu, com o conhecimento da época, enxergar algo que parecia improvável", afirma.
O ´futuro´ nas crianças
Muito antes da fama de séries como ‘Jornada nas estrelas’ e ‘Guerra nas estrelas’, o físico norte-americano iniciou seu contato com ciência por meio de outra atração na TV: Flash Gordon, um dos primeiros herois espaciais.
"Foi a primeira vez que eu me interessei por naves, invisibilidade, aliens e viagens espaciais”, lembra o físico. A partir daí, Kaku nunca mais deixaria de espantar "como uma criança" e seguiria o caminho até virar um cientista profissional.
Esse olhar infantil do mundo é uma das armas nas quais Kaku mais acredita para despertar a atenção para a ciência. "Crianças consomem muita ficção científica, mas não sabem dizer se o que veem é verdade", diz. "Enquanto isso, na escola, a física ´de verdade´ é ensinada de uma maneira muito chata, seca e intimidadora."
Para solucionar o problema, o físico sugere a ficção científica como uma possível porta de entrada para o conhecimento.
"O objetivo é tornar tópicos complicados em algo simples para as pessoas se interessarem, sem sacrificar o rigor científico. Usar um pouco do truque dos gibis, filmes e videogames, que captam a atenção das pessoas."
Descrevendo o conhecimento científico como "o motor da democracia", Kaku vai até mais longe para destacar a importância da introdução dos jovens no mundo científico. "A ciência gera riqueza, mas os benefícios só aparecem quando os jovens decidem virar parte dessa revolução", diz.
"Cada nação deve despertar o interesse. O mundo está ficando cada vez mais científico. Infelizmente, alguns países estão sendo deixados para trás, não estão investindo nos jovens e em educação."
Universos paralelos
Uma das "maluquices" dos físicos que Kaku tenta simplificar é a existência de universos paralelos, uma consequência da explicação oferecida pela teoria das cordas ao espaço.
"O universo pode ser entendido como uma bolha que está crescendo. Nós vivemos na superfície dessa bolha e estamos presos a ela. A teoria das cordas prevê que outras bolhas existem, seriam outros universos, paralelos ao nosso", afirma o físico.
Kaku defende a teoria das cordas como a explicação definitiva para a física, capaz de explicar todos os aspectos do universo. Essa busca pela "teoria do tudo" é também uma herança de sua infância: inspirado por Albert Einstein, outro que também tentou unificar todo o conhecimento da física em uma única equação de poucos centímetros de extensão.
A esperança de Kaku em poder provar a existência das suas "bolhas" pode estar em experimentos como o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), na Suíça.
Caso esteja certo, Kaku teria mais um exemplo para apostar na força da ficção como um acesso ao futuro. "A teoria das cordas nos permite imaginar viagens ao passado e até mesmo ´warp drives´ [termo famoso na série ´Jornada nas estrelas´, que sugere uma forma de viajar a pontos distintos do espaço, a velocidades maiores que a da luz]", diz. "O que era impensável no passado, hoje é encarado com seriedade pelos cientistas." Fonte: Portal G1 - Ciência e Saúde