Esta semana levei a minha palestra sobre carreira, vida corporativa e felicidade profissional para um grupo de gestores de RH de uma grande empresa do país. Todos estavam preocupados com a nova turma de talentos que está chegando agora ao mercado de trabalho, com 20 e poucos anos. Esse foi o ponto mais candente da discussão: como lidar com essa galera que nasceu de 1985 para cá e que desafia as empresas como poucas gerações anteriores. Os programas de trainees e de estagiários já começam a servir de palco para a explicitação de algumas diferenças importantes entre o que essa moçada está buscando para si e aquilo que as empresas estão oferecendo.
Para começar, esses meninos e meninas tinham 10 anos ou menos quando a internet aconteceu no Brasil e no mundo – então nasceram conectados. São seres digitais. E nossas empresas ainda são um bocado analógicas – no jeito de pensar, de agir e de gerir. Eles aprenderam a escrever no teclado, treinaram os polegares nos celulares (nunca “discaram” para alguém), se acostumaram a fazer amigos e participar de discussões na web. São criaturas criadas no horizontalismo e na interatividade. Não convivem bem com ambientes demasiado verticais, hieraquizados, onde só alguns podem falar, onde não se pode opinar, onde não se tem direito a voto. Eles, sobretudo, se consideram produtores e editores de conteúdo. Se consideram influentes. Alguns deles, de fato, tem mais seguidores no Twitter e tem mais amigos no Facebook do que os nome do mailing list da própria companhia para a qual estão indo trabalhar. Portanto, a opinião deles tem, realmente, muitas vezes, mais impacto e repercussão do que a própria comunicação das marcas que estão indo gerir. Ao menos na nova fronteira da internet 2.0, das mídias sociais e da blogosfera – uma fronteira, aliás, diga-se, absolutamente estratética para a comunicação das marcas e das empresas daqui para a frente.
Como a internet é um fenômeno que começou por aqui par e passo com o resto do planeta, e como o ambiente digital é uma das frentes que deram muito certo no Brasil (a internet brasileira é uma das mais dinâmicas e promissoras do mundo), eles nasceram com uma autoestima muito interessante, com a ideia de que são cidadãos do mundo, que devem muito pouco a americano ou japoneses, por exemplo. Ao lado disso, eles não tem a memória de um Brasil hiperinflacionário, de mercado fechado, de economia atrasada. Eles não tem, como várias gerações anteriores, vergonha de serem brasileiros. Ao contrário, cresceram com a ideia de que o Brasil é uma potência emergente, com inflação controlada há mais de 15 anos, com índices interessantes de crescimento econômico e de desenvolvimento de negócios, que goza do respeito de outros países e da admiração de outros povos – por mais problemas que tenhamos.
A minha geração, que chegou ao mercado de trabalho na virada dos 80 para os 90, queria um trabalho. Qualquer que fosse. Essa turma, hoje, projeta uma carreira. Não estão atrás de uma vaga, mas de uma oportunidade de crescimento, de desenvolvimento. Alguns miram uma trajetória profissional fora do Brasil, outros almejam investir tudo agora, pisar fundo, para ganhar muito dinheiro para se aposentar aos 50. Então as forças do capital nunca encontraram as forças do trabalho tão equipadas, propondo um equilíbrio de forças tão grande, na hora de fecharem um contrato. E isso não se dá por meio de sindicatos, da pressão coletiva dos trabalhadores. Mas sim por meio de uma nova postura individual dos novos trabalhadores, de gente que chega com o nariz empinado, que sabe bem o que quer – e mais ainda o que não quer… – e que definitivamente não topa qualquer parada.
Fonte: Blog Manual do Executivo IngênuoQuinta-feira, 22 de abril de 2010 |