Analistas esperam retomada dos investimentos em 2010, principalmente em setores como construção civil, petróleo e gás e turismo


Depois de um ano de incertezas, as empresas prometem retomar a rota de crescimento, com ampliação de investimentos e geração de mais empregos em 2010. A economia deve voltar a girar, puxada por setores como construção, petróleo e gás, turismo, agronegócio e de bens de consumo, apostam analistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Uma pesquisa da consultoria Deloitte revela que 95% das empresas esperam crescimento de receita em 2010, contra um índice de 69% nesse ano. A projeção é de um crescimento de 14% em faturamento. O levantamento, que ouviu 573 empresas em todo o Brasil que juntas faturam perto de R$ 500 bilhões, revela que a imensa maioria – 90% – projeta ampliação de investimentos em 2010.
Negócios

Mais fusões e novas aquisições

A previsão é de um forte crescimento das operações de fusões e aquisições em 2010. Apesar da crise, foram realizados grandes negócios em 2009 – como a fusão da Sadia com a Perdigão, a operação do Pão de Açúcar com a Ponto Frio e a

Casas Bahia, e a compra da GVT pela Vivendi. “Em 2010 haverá mais liquidez no mercado e como consequência mais dinheiro para bancar as operações”, diz Carlos Peres, sócio da Pricewaterhousecoopers para o Paraná e Santa Catarina.

No seu relatório global, a Price estima que o volume de negócios no Brasil deve ficar próximo do recorde de 2007, com 721 negócios. Os setores de varejo, construção civil, têxtil, médico e hospitalar despontam com oportunidades de negócios, na avaliação de Peres.

Varejo

No segmento varejista – que viu nascer no Pão de Açúcar um novo gigante, com faturamento de R$ 40 bilhões –, devem surgir mais negócios envolvendo principalmente redes de supermercados regionais. Peres acredita que a maior quantidade de dinheiro em circulação, a saída rápida do Brasil da recessão e a realização de grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, devem favorecer o interesse de investidores estrangeiros, dispostos a aproveitar o bom momento do mercado brasileiro.

O caminho inverso – a investida de empresas nacionais no exterior – também deve ganhar impulso, graças principalmente ao dólar fraco. “O real valorizado deixa mais baratas as empresas lá fora. Por outro lado, as empresas brasileiras vêm ganhando confiança para investir em compras fora do Brasil”, afirma. (CR)
Nível de emprego pode bater novo recorde

A melhora do cenário econômico, com a perspectiva de crescimento entre 5% e 6% do Produto Interno Bruto (PIB), deve fazer com que o nível de emprego com carteira assinada bata um novo recorde em 2010, apontam projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “Crescimento gera emprego. Praticamente todas os setores deverão terminar o ano com saldo positivo”, afirma Cid Cordeiro, coordenador do Dieese no Paraná.

Segundo ele, além da construção civil, setores que foram mais fortemente afetados pela crise, como papel e celulose, têxtil, metalmecânico, automotivo e agricultura voltarão a contratar. “Além disso, o setor público deve, pelo menos no início do ano, reforçar as contratações. Somente para o governo do Paraná são esperadas 6 mil”, diz.

O Dieese projeta um saldo positivo de vagas ao longo de 2010 entre 120 mil e 130 mil vagas, contra 80 mil em 2009. “Voltaremos aos patamares recordes de 2004 e 2007”, afirma. Para analistas, o momento será bom também do ponto de vista da remuneração. Alguns já estimam que pode haver falta de profissionais em alguns setores. O fenômeno deve ocorrer em duas pontas: nas vagas de menor remuneração, disputada por vários segmentos e que podem perder espaço para empregos com maior salário, e nos de alta especialização. “As empresas provavelmente terão que investir em políticas de retenção de talentos e na qualificação de funcionários”, diz Carlos Peres, sócio da PricewaterhouseCoopers para o Paraná e Santa Catarina. Analistas acreditam que com o emprego em alta, a taxa de desemprego poderá ser a mais baixa da série histórica, ficando próxima de 7% em 2010. (CR)

“A crise acabou não sendo tão agressiva no Brasil como foi em outras partes do mundo, o que reforça o otimismo para 2010”, diz José Paulo Rocha, sócio da área de Corporate Finance da Deloitte. De acordo com o levantamento, os setores de petróleo e gás – que devem ser beneficiados pela recente descoberta de reservas na camada de pré-sal – e de construção civil serão os segmentos que mais vão gerar negócios em 2010.

No Paraná, o setor de petróleo lidera investimentos, com a ampliação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), que deve absorver R$ 9 bilhões até 2012. Segundo o gerente geral da refinaria, João Adolfo Oderich, já há estudos para um próximo ciclo de investimentos em ampliação para a refinaria. “Não vamos parar por a͔,, diz.

Embalada pelo crédito e pelos juros mais baixos e pelas obras de infraestrutura, a construção civil deve ter mais um ano de desempenho forte em 2010. Uma projeção da Fundação Getúlio Vargas (FGV) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor avance 9% em 2010. “As empresas vão acelerar lançamentos no próximo ano. Em 2009, por conta da crise, as construtoras seguraram um pouco a colocação de novos imóveis no mercado”, diz Marcos Kahtalian, consultor do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) no Paraná.

Na avaliação do economista Gilmar Mendes Lourenço, professor do Centro Universitário Fae, basicamente dois grupos de setores devem ter destaque em 2010. O primeiro está relacionado diretamente à combinação de renda, crédito e emprego. Neste bloco estão os bens de consumo duráveis – como eletrodomésticos, automóveis e móveis, que também contam com o benefício da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), além dos bens não-duráveis, como alimentos e bebidas.

No segundo grupo estão os setores vinculados a gastos do governo, como os investimentos em infraestrutura. Obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que não saíram do papel devem começar a deslanchar. Projetos na área de energia, saneamento, de portos e aeroportos devem movimentar o mercado de construção. “Na outra ponta, o setor imobiliário deve continuar forte e se beneficiar da redução dos preços dos financiamentos”, afirma Lourenço.

Para os empresários ouvidos pela Deloitte, o setor de Tecnologia da Informação, que praticamente não foi afetado pela crise, também devem ter destaque. O turismo, com a preparação para a Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas, também deve dar início, em 2010, a um novo ciclo de investimentos. Os eventos esportivos, junto com a exploração da camada de pré-sal, deverão manter a taxa de crescimento do investimento no setor de infraestrutura em 10% até 2014 – quando deverão atingir a marca dos R$ 160 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib).

O agronegócio – que viveu um 2009 difícil por conta da queda na demanda internacional, do dólar fraco e dos baixos preços das commodities – deve ter algum alívio em 2010. As cooperativas do Paraná preveem aplicar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão neste ano, principalmente em projetos de infraestrutura, na área de frangos, suínos e na industrialização da produção.

A previsão da melhora, ainda que tímida, da economia global deve ter reflexo em mais encomendas e recuperação dos preços, segundo o professor Marcio Cruz, do departamento de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

De maneira geral, todos os setores terão um ano melhor do que 2009, mas os analistas ressaltam que os exportadores são os que ainda terão um ano de desafios. “2010 será, como o seu antecessor, um bom período para as empresas que investirem no mercado interno. Quem depende de exportações, ainda terá que enfrentar algumas dificuldades”, ressalta. O dólar fraco, favorável às importações, também permanece uma ameaça para quem tem forte concorrência com importados, como fornecedores de peças para o setor de informática, para o mercado automotivo e para indústrias como têxtil e calçadista. O turismo no mercado interno também perde espaço para viagens internacionais, na avaliação de Cruz, da UFPR.

Haverá uma melhora nas exportações, mas a recuperação nos mercados compradores não será suficiente para gerar um comércio internacional forte. “No próximo ano espera-se uma pequena melhora no saldo da balança comercial com uma corrente de comércio (soma das exportações e das importações) bastante superior a de 2009, que deve ter encerrado com queda de R$ 90 bilhões em função dos efeitos da crise”, afirma Alcides Leite Junior, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios.

COMENTÁRIOS