Muitas empresas tem investido em capacitação dentro de suas instalações junto às universidades e escolas técnicas

Apesar do Brasil ter recebido investimentos importantes no segmento de tecnologia da informação (TI) e de telecomunicações nos últimos anos, as empresas que atuam nesses setores relatam que estão enfrentando dificuldades no mercado na busca por profissionais capacitados para atender à demanda de crescimento dos setores. Os principais entraves apontados são a concorrência entre as empresas - e a recorrente guerra salarial que aumenta a rotatividade dos colaboradores -- e a falta de mão de obra especializada.

Para driblar a falta de profissionais, muitas empresas estão investindo em capacitação dentro de suas instalações junto às universidades e escolas técnicas. A desenvolvedora de softwares ERP (Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, na sigla em inglês) NL Informática, por exemplo, seleciona
jovens dos últimos semestres de cursos de escolas técnicas, faculdades e universidades do Rio Grande do Sul e os prepara por até dois meses. O aluno que atinge 80% de aproveitamento nas aulas é contratado. "Falta gente no mercado. Já tivemos momentos em que as universidades ofereciam uma educação bastante genérica ao aluno, que chegava ao mercado de trabalho sem especialização. Foi quando estudamos alternativas nos EUA e percebemos que lá as empresas apostavam em capacitação interna para ter colaboradores melhor formados", conta Nelço Tesser, presidente da empresa.

No caso da Neo Grid, especializada em soluções e serviços de Supply Chain Management (Gerência de Cadeia de Suprimentos, na sigla em inglês), a empresa tem enfrentado dificuldades nas contratações que envolvem desde
profissionais especializados em programação e análise de sistemas, até o responsável pela arquitetura de software. Segundo a empresa, o problema é a falta de equilíbrio entre as competências técnicas e comportamentais dos candidatos. "Muitas vezes, o profissional possui graduação, idioma e certificações, mas não tem a postura exigida", explica Daniele Fonseca, diretora de RH da companhia.

A solução encontrada pela empresa também foi a criação de parcerias com universidades para fornecer um programa de capacitação gratuito para os alunos, com oportunidade de contratação após a finalização do curso. "Esse apagão de profissionais é um fenômeno global. No nosso caso, observamos o nível de qualificação dos candidatos às nossas vagas é inferior ao que eles, de fato, admitem que possuem. A partir daí, investimos em treinamento dentro da empresa em tecnologias específicas da nossa cadeia de
negócios", diz Daniele.

A TCI, empresa especializada em BPO (Terceirização de Processos de Negócios, na sigla em inglês), tem como maior problema o mercado aquecido. Com a falta de mão de obra especializada, os candidatos estão cada vez mais exigentes quanto ao salário e a distância do trabalho até as suas residências. Para contornar o problema, a empresa criou um programa de capacitação direcionado a jovens talentos.

"Temos uma taxa de rotatividade na empresa de 40%. Começamos a investir em soluções de capacitação dentro da companhia por meio de cursos de certificação via internet. Dessa forma, atendemos a deficiência dos nossos colaboradores e resolvemos a demanda da empresa", diz Fabíola Oliveira, gerente de RH da TCI.

Carlos Carnevale Junior, diretor de Novos Negócios da consultoria Multirede, diz que, apesar de oneroso, os treinamentos internos direcionados a profissionais com pouco tempo de experiência podem possibilitar um tempo mais duradouro de prestação de serviço do colaborador dentro da empresa. "O profissional que tem mais tempo de mercado é mais suscetível à ofertas de outras empresas. Verificamos que investir no colaborador desde a base pode significar que ele, do ponto de vista da carreira, vai permanecer mais tempo na empresa, ao contrário do que acontece com um profissional que está a mais tempo no mercado", explica o diretor.

No segmento das telecomunicações, o presidente da operadora líder no País, a Vivo (Telefónica), Roberto Lima, apontou a escassez de mão de obra qualificada como um dos obstáculos que a empresa vai enfrentar para garantir sua expansão no território nacional. "Não há profissionais disponíveis por conta da demanda de obras que existe no Brasil hoje. A guerra salarial é muito forte e isso aumenta a rotatividade dos colaboradores", conta Lima.

CEOs

Segundo balanço anual feito pela empresa de recrutamento e seleção de altos executivos Fesa, a contratação de profissionais de TI e telecom aumentou 110% só no segmento de altos cargos, em 2010, em relação ao ano anterior.

"Nenhuma empresa hoje, em termos mundiais, consegue crescer se não tiver uma boa base tecnológica", diz Carolina Verdelho, diretora da Fesa, analisando as causas do aumento da demanda por altos executivos de TI. Com base nos resultados de 2010, a diretora acredita que em 2011 as contratações no segmento sigam crescendo, embora ainda não haja uma previsão percentual exata.

De acordo com a pesquisa Global CEO Study 2010, realizada pela IBM, 50% dos CEOs brasileiros revelaram que a falta de mão de obra qualificada é ainda um grande obstáculo para o sucesso das empresas. O relatório também revelou que a preocupação dos CEOs brasileiros com as competências dos profissionais se dá em outras áreas da pesquisa.

No quesito qualidade de liderança, os executivos locais concordam com os CEOs do resto do mundo que ´criatividade´ seguida de ´integridade´ devam ser as principais aptidões de um líder. ´Dedicação´ - a terceira qualidade, apontada por 38% dos brasileiros - não entrou para a agenda dos CEOs de alta performance - os que atuam em organizações que obtiveram os melhores resultados financeiros mesmo durante períodos de oscilação econômica. Para eles, ´influência´ e ´pensamento global´ são atributos considerados mais importantes. Em relação à competência na execução, 55% dos entrevistados brasileiros indicam a ´responsabilidade individual´ como principal característica.

Fonte: Diário do Comércio Indústria e Serviços

 

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