A redução na taxa de desemprego do país – que no ano passaram atingiu o patamar recorde de 6,7%, o menor desde 2002, segundo o IBGE – já está trazendo conseqüências para as pequenas e médias empresas brasileiras. A primeira delas, que atinge negócios de todos os portes e setores, mas castiga principalmente as menores, é dificuldade para contratar profissionais.
No setor de serviços domésticos, por exemplo, o nível de desemprego chegou a apenas 1% no ano passado, e no ramo da construção, a taxa caiu a 3%, trazendo desafios para quem precisa de mão de obra nos segmentos.
Uma pesquisa elaborada pela consultoria em estratégia The Boston Consulting Group mostra que o gargalo será ainda maior, já que os países do BRIC vão ter uma alta demanda por mão de obra nas áreas de construção, transportes e comércio até 2020. “O Brasil já tem obras paradas por falta de engenheiros e pedreiros”, observa Dariane Castanheira, professora e pesquisadora do Proced/FIA.
Oportunidades e lucros
Neste movimento, os empreendedores mais antenados podem identificar oportunidades para a criação de novas empresas. Uma das áreas que deve crescer como consequência do apagão de mão de obra é a de treinamentos. “Está aí uma oportunidade para pequenos empresários que queiram atuar no ramo”, diz Dariane. Com a falta de gente qualificada, as grandes empresas têm criado seus próprios centros de treinamentos para preparar a mão de obra, serviço que pode ser terceirizado para companhias de menor porte.
Outra atividade que deve ser impulsionada é a de serviços de limpeza e consertos domésticos. Alexandre Ortega, diretor de operações da Praquemarido, que presta serviços gerais de reformas, conta que a empresa têm crescido mais nos últimos anos com a necessidade deste tipo de funcionário. “A demanda é tão grande a ponto de estarmos trabalhando acima da nossa capacidade”, diz Ortega.
Entre eletricistas, pintores, pedreiros e jardineiros, a Praquemarido já tem dificuldades em encontrar trabalhadores bem preparados. “Na verdade, não temos um mercado com profissional qualificado. Está muito difícil achar e estamos desenvolvendo um centro de treinamento de qualificação”, conta o diretor. Criada em 2003, a rede começou a vender franquias há dois anos e já soma 18 unidades.
Em geral, as atividades de baixo risco e pouco valor agregado são mercado de oportunidades para as empresas menores. “Apesar da concorrência ser grande, a chance de insucesso é pequena”, defende Reinaldo Messias, consultor do Sebrae/SP. Produtos e serviços ligados à alimentos, beleza estética, pets, criação e artesanato estão na lista de oportunidades.
Em grandes centros, como São Paulo, já existe falta também de motoboys. “Essa é uma oportunidade porque já está faltando. Mas tem que ter um treinamento para diminuir os acidentes”, explica Dariane.
O problema
Na contramão das empresas que vão faturar com a falta de gente bem qualificada, estão muitos outros negócios que devem ser prejudicados por ela. “Se o apagão de mão de obra tem um impacto para grande empresa, imagina para pequena. Quando falta gente, a grande vai ao mercado e atrai pelo salário e pelo nome”, afirma Tales Andreassi, professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-EAESP.
A dica é tentar manter os bons funcionários e atrair novos com diferenciais que as grandes empresas não costumam ter. Oferecer stock options - um percentual de participação na empresa - é uma boa solução para agradar aos colaboradores com cargos mais altos. “Criar um ambiente de trabalho legal, com um clima organizacional participativo, positivo e menos burocrático são atrativos para os funcionários”, sugere Andreassi.
Para o coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper, Marcos Hashimoto, mesmo com a escassez, os empresários não podem perder de vista a importância de ter gente bem preparada nos novos negócios. “Empresas que dependem de qualificação podem ter uma vantagem competitiva se construirem um ambiente adequado para desenvolver talentos”, diz. Fonte: Portal Revista Exame