O brasileiro está ganhando mais, mas ainda não aprendeu a organizar as finanças para consumir bem e poupar mais. Saiba como aproveitar melhor seu dinheiro
Você já parou para pensar nas transformações que aconteceram na economia brasileira que impactaram no seu bolso? O real se tornou uma moeda estável e a taxa básica do juro da economia baixou. Essas mudanças deram maior poder de compra a seu salário e tornaram o financiamento mais acessível. Mas não é só. Há mais empregos, com melhor remuneração, e a inflação é bem menor do que a registrada nos anos 80 e 90.
Está muito mais fácil poupar. Na Caixa Econômica Federal (CEF), instituição que detém o maior volume de depósitos no Brasil, a quantidade de pessoas com aplicações entre 7 000 reais e 8 000 reais cresceu 61% nos últimos dois anos. Se olharmos para o segmento mais endinheirado dos correntistas, também houve melhora. De 2008 para cá, o número de clientes da CEF com investimentos acima de 500 000 reais cresceu 80%. Esses números mostram que quem soube poupar viu seu patrimônio crescer nos últimos anos.
O economista e pesquisador da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), Marcelo Neri, vem medindo essas mudanças ao longo dos últimos anos. Segundo ele, o número de pessoas nas classes A e B, da qual fazem parte as famílias que têm renda superior a 4 807 reais, cresceu 43,8% de dezembro de 2003 a dezembro de 2008.
Já a classe C, que representa as famílias com renda entre 1 115 a 4 807 reais, cresceu 25,2%. De acordo com o pesquisador, 32 milhões de pessoas ingressaram nas classes A, B e C entre 2003 e 2008 e outras 36 milhões devem se juntar a esse contingente nos próximos quatro anos, mantidas as condições econômicas do país.
A trajetória do advogado paulistano Felipe Coimbra, de 31 anos, ilustra o movimento ao qual os números do professor Neri se referem. Filho de pais de classe média, Felipe começou a trabalhar aos 15 anos como office boy. Aos 18, ingressou na faculdade de Direito. Antes de se formar, aos 21 anos, já estava empregado como auxiliar no departamento de operações estruturadas, na corretora de valores SLW, de São Paulo. Felipe recebia um salário de 800 reais.
Com 600 reais pagava a faculdade e usava o restante para gastos com transporte e alimentação. De lá pra cá, sua carreira deslanchou. Ele se tornou chefe de departamento, gerente e, no final de 2009, foi promovido a diretor de compliance, área responsável por analisar e verificar se os produtos financeiros estão dentro da lei. Seu salário hoje é 17 vezes maior do que quando começou na SLW. Felipe foi organizado e se preocupou em direcionar parte do dinheiro que ia entrando para construir seu patrimônio, sem deixar de curtir a vida.
Ele está pagando um apartamento que comprou por 600 000 reais, que fica pronto em 2012, e tem uma grana investida, que possibilita viajar e fazer pequenas extravagâncias. “Faço pequenos resgates para curtir as coisas que gosto, como mergulhar.” Nem todo mundo, porém, tem o mesmo controle sobre as finanças pessoais. E aí, mesmo ganhando mais, há a sensação de que o dinheiro está sempre curto.
É o caso do engenheiro paulistano Antônio Carlos Viaro, também de 31 anos. Ele é perdulário com relação ao próprio dinheiro. Antônio teve um aumento de 60% no salário quando deixou a função de trainee, em 2008, para assumir o cargo de engenheiro de processos, na multinacional francesa Cray Valley, produtora de massa plástica.
Hoje, ganha em torno de 7 000 reais fora o bônus, que no ano passado foi de 20 000 reais. Esse dinheiro ele gastou em viagens, festas e presentes. Além de não ter mais nada do bônus que recebeu, ainda deve 25 000 reais ao banco. “O grande problema é que, ao ver meu salário crescer, eu aumento imediatamente meus gastos”, diz o engenheiro.
DISCIPLINA COM CURTIÇÃO
ELE GANHA 17 VEZES MAIS DO QUE NO INÍCIO DA CARREIRA E É CONTROLADO
Desde adolescente, o paulistano Felipe Coimbra de 31 anos, é preocupado com a vida financeira. Aos 15 anos entrou em um banco para trabalhar como office boy. Em três anos, juntou o suficiente para comprar um Ford Escort. No mesmo ano, ingressou na faculdade de Direito. Em 2001, último ano do curso, foi convidado para trabalhar na corretora de valores SLW, de São Paulo, como auxiliar no departamento de operações estruturadas.
A área é responsável por verificar se os produtos financeiros da empresa estão dentro da lei. Depois de ficar seis meses como auxiliar, Felipe assumiu a gerencia do departamento. “O profissional agressivo, tem uma posição mais defensiva. Os diretores da corretora viram isso com bons olhos”, diz. No cargo de auxiliar, Felipe recebia um salário de 800 reais, com a promoção seu salário quadruplicou. Ele então passou a investir 40% do que ganhava em ações e fundos multimercado. Em 2006, depois de quatro anos da promoção, o advogado tamento no valor de 150 000 reais à vista. Para pagar o imóvel, resgatou o dinheiro aplicado e vendeu o carro.
Na época, decidiu também mobiliar o apartamento e gastou 40 000 reais. No novo cargo, Felipe começou a fazer um trabalho de aproximação com os investidores. Ele gerenciou o departamento durante sete anos. Nesse período, afirma que sua área registrou um crescimento de 500%. Em função disso, incorporou mais 7 200 reais em seus rendimentos. No final de 2009, foi novamente promovido — a diretor de compliance — e seu salário aumentou 40%.
Felipe mantém as mesmas despesas fixas há três anos. “Frequento os lugares de quando era gerente”, diz. Hoje todos os bônus semestrais que recebe, o que corresponde a 70% do salário, vão para a aplicação em bolsa. Recentemente, Felipe comprou um apartamento no valor de 600 000 reais na planta, que vai ficar pronto em 2012. Seu hobby é viajar. “Nessas ocasiões, tiro o dinheiro da renda fixa”, diz o advogado.
Dica do consultor: Ao receber um dinheiro extra, aproveite o momento e se planeje para aumentar sua poupança, assim como faz o Felipe. “É importante lembrar que, diante de imprevistos, quanto maior for seu colchão financeiro menor será o estresse”, diz Mauro Calil, professor do Centro de Estudos e Formação de Patrimônio Calil e Calil, de São Paulo.
Para mais dicas, acesse: http://vocesa.abril.com.br/organize-suas-financas/materia/aprenda-poupar-seu-salario-546400.shtml
Fonte: Portal Você S/A