Feira literária avalia hoje a repercussão internacional de livros nacionais

"Deixamos de despertar interesse lá fora", diz Marçal Aquino; já Milton Hatoum percebe momento de destaque

 

MARCO RODRIGO ALMEIDA

DE SÃO PAULO

 

A literatura brasileira tem conquistado maior destaque internacional ou é refém de poucos nichos editoriais?

O assunto é hoje tema da mesa "Brasil, Brazil", que acontece às 17h na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Participam da palestra Marçal Aquino, Milton Hatoum e Gregório Dantas.

Aquino, autor de "O Invasor", acredita que, após um período de tradução maciça na década de 1970, a literatura brasileira deixou de despertar interesse.

Hoje, para ele, os casos são pontuais, frutos de esforço individual, e não mais de interesse genuíno.

"Nos anos 70, aconteceu o boom da literatura latina e nós pegamos a rabeira dele. Hoje, o mercado está interessado em outras coisas."

Ele acrescenta que a política muitas vezes influencia na apreciação literária.

 

VAMPIRISMO

O auge latino, quando escritores como Julio Cortázar e Gabriel García Márquez estouraram na Europa, coincidiu com o período em que muitos países da região viviam sob ditaduras militares.

A estabilidade democrática conquistada na década de 1990 teria "esfriado" o interesse internacional.

"Hoje a moda é o Leste Europeu e Cabul, áreas de conflito. Há também o vampirismo. O cara que escrever "O Vampiro de Cabul" vai ganhar muito dinheiro", ri.

Gregório Dantas, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (MS), acredita que muitas vezes o Brasil ainda é visto sob os rótulos convencionais: o de país tropical exótico, selvagem e de mulheres exuberantes.

"Talvez devêssemos superá-los. Há quem acredite, porém, que é preciso reforçá-los para melhor divulgarmos nossa cultura. É um impasse", avalia Dantas.

Milton Hatoum tem uma visão um pouco mais otimista do problema. Percebe um maior interesse por livros brasileiros nos últimos anos.

Cita como exemplos clássicos ("Grande Sertão: Veredas" e "Os Sertões") e autores recentes (Bernardo Carvalho e Luiz Ruffato) que tiveram traduções na Europa.

O próprio Hatoum serve como exemplo. Já foi traduzido para 16 línguas. "Um milagre", brinca ele.

"O que tenho notado é que o interesse pelo Brasil tem aumentado porque hoje temos um maior destaque internacional. Mas o fundamental é a qualidade da obra. Cedo ou tarde, bons livros serão traduzidos."   Fonte: Folha de São Paulo / Ilustrada 

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