As construtoras retomam a disputa por profissionais e estão melhorando o mix de benefícios e a remuneração em todas as áreas
Depois de um ano de projetos paralisados, as construtoras estão tirando da planta seus empreendimentos e novos planos de negócios. Uma pesquisa da consultoria de recursos humanos Manpower com 850 empregadores do país mostra que o setor deve empregar 45% mais profissionais nos próximos três meses em relação ao mesmo período do ano passado. O crescimento é impulsionado pela demanda de moradia da classe média e pelos investimentos em infraestrutura que fazem parte do Plano de Aceleração do Crescimento, patrocinado pelo governo federal.
“A demanda por profissionais quadruplicou desde a virada do ano”, diz Lea Federmann, headhunter da consultoria Michael Page, especializada em recrutamento para média e alta gerência, com atuação em diversos estados brasileiros. Como efeito, há no setor uma disputa por gente em todos os níveis para as áreas de obras, engenharia, vendas, comercial e tecnologia. Algumas construtoras estão revendo suas políticas de remuneração e programas de desenvolvimento de profissionais.
O objetivo nesse caso é não perder funcionários para os concorrentes. Mas nem sempre as empresas conseguem cobrir uma oferta mais agressiva de um competidor. A arquiteta Marisa Brunelli, de 34 anos, trocou de companhia recentemente depois de cinco anos trabalhando na gerência de projetos da Alphaville Urbanismo.
Ela aceitou a oferta da Agre, um dos braços da megaempresa que nasceu da união das construtoras Agra, Klabin Segall e Abyara no ano passado. “Me senti atraída porque a companhia está crescendo para ser um dos principais nomes do mercado”, diz. Marisa teve um aumento de 25% e tem a possibilidade de um bônus maior. Na hora de contratar, os empregadores levam em conta a experiência no setor. Sai na frente quem, como Marisa, já tem conhecimento prévio de como o segmento opera. Na área de engenharia, que demanda profissionais com bagagem para gerenciar grandes obras, a experiência prévia é fundamental.
NORDESTE E BRASÍLIA
No Nordeste, a indústria da construção vive um de seus melhores momentos dos últimos dez anos e o ritmo de contratação segue acelerado. “A expansão da economia tem sido a uma média de 10% ao ano”, diz Rossano Nonino, diretor da Brazilian Capital – Companhia de Gestão de Investimentos Imobiliários. A construtora Cyrela Andrade Mendonça, que está na Bahia, Maranhão, Pernambuco e Ceará, pretende contratar 9 000 pessoas neste ano (parte disso é de trabalhadores para as obras). A companhia é resultado da joint venture entre a Cyrela Brazil Realty, de São Paulo, e a baiana Andrade Mendonça.
“Há vagas em todas as áreas da empresa”, diz Antônio Andrade Júnior, diretor da construtora. Na capital federal, que passou para o segundo lugar no ranking do mercado de construção civil no ano passado, os empregadores reclamam da falta de mão de obra. “Aqui não encontramos profissionais, falta gente com experiência”, diz José Elias Fernandes Júnior, sócio da Combrasen, de Brasília, que faturou 2,4 milhões de reais em 2008. Os salários na região chegam a 12 000 reais para engenheiros que tenham no mínimo cinco anos de experiência. “Cargos gerenciais são os que sentem mais essa escassez, pagam cerca de 16 000 reais. É um recrutamento difícil, temos de procurar no Brasil todo porque na cidade está em falta”, diz Acácia Vasconcellos, diretora da Insight Consultoria.
RH ESTRUTURADO
Como encontrar profissionais é complicado, as construtoras têm investido mais recursos para reter e desenvolver quem já está em casa. A Cyrela Andrade Mendonça criou uma área de recursos humanos para estruturar suas políticas de gestão de pessoas. “Mudou aquele cenário em que as pessoas eram contratadas por projetos e não sabiam quanto tempo ficariam na companhia ao final da obra”, diz Andrade Júnior. Reestruturar — ou mesmo criar — uma área de gestão de pessoas faz parte do processo de profissionalização pelo qual as construtoras vêm passando.
Em fevereiro, a Even, de São Paulo, lançou o programa Líderes Even, com o objetivo de formar gestores, considerado essencial pela empresa para seu crescimento. O projeto, que é voltado para gerentes e diretores, consiste em difundir as melhores práticas de liderança e oferece coaching individual para aperfeiçoamento de competências específi cas. Em 2009, a Even já havia contratado Valéria Fernandes, ex-superintendente do ABN Amro, como diretora de RH. A contratação de uma profissional do mercado financeiro, um dos que mais se preocupam em reter seus talentos por causa da disputa por gente, indica os caminhos que o setor de construção deve seguir nos próximos anos.
“Queria fazer grandes projetos”
O engenheiro civil Leandro Oliveira, de 33 anos, de São Paulo, aproveitou a movimentação do setor já no ano passado. Foi contratado há nove meses pela construtora Santa Bárbara, com sede em São Paulo, empresa da área de infraestrutura com obras em diversas regiões do país. Leandro mudou pela possibilidade de ganhar mais e pela visibilidade que terá na área de desenvolvimento de novos negócios da companhia.
A atuação da Santa Bárbara, que inclui obras de construção de aeroportos, estradas, projetos de saneamento e revitalização de áreas urbanas, é uma oportunidade para o engenheiro civil aparecer mais como profissional . “Eu queria fazer parte de grandes projetos. Consegui uma posição estratégica”, diz Leandro, que ganhou remuneração 30% maior e possibilidade de fazer MBA subsidiado pela empresa.
Fonte: Portal Você S/A