Quando os gestores pensam como será a universidade do futuro, uma característica é quase unânime: as instituições de ensino superior terão de ser cada vez mais internacionais se quiserem sobreviver com prestígio. Mas o que siginifica essa internacionalização?
Para a professora Irene Kazumi Miura, presidente da Comissão de Relações Internacionais da FEA-RP/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto), a internacionalização, para além do movimento de mandar estudantes para o exterior e receber estrangeiros, está ligada à busca de excelência e compartilhamento. “Algumas unidades da USP já têm um fluxo consolidado de troca de conhecimento, pesquisas em conjunto, vai e vem de professores entre universidades, já é um movimento natural. Nos últimos anos, esse discurso está mais forte, como uma resposta ao processo de globalização. Se temos trocas de bens e servições, por que a educação estaria de fora?”
Porém, para concretizar esse processo, a professora enfatiza a importância da estrutura organizacional: recursos financeiros, pessoal especializado, com funcionários que falem inglês e espanhol. Principalmente o idioma anglo-saxão, uma vez que “a língua do mundo acadêmico é o inglês”.
A busca da internacionalização, na prática, é recente. A professora conta que as comissões de relações internacionais das unidades têm, em média, cinco anos. Na FEA-RP, por exemplo, a docente diz que o processo está mais consolidado pelo caráter de negócios da faculdade, que vem acompanhando o movimento de internacionalização das empresas. No entanto, há outras unidades que não contam com a mesma facilidade, porque, entre outros motivos, o cargo não conta com verba de representação, ou seja, o docente responsável pela comissão não recebe por isso. “Essa desigualdade está relacionada à carência da parte organizacional.”
Para o professor José Pissolato Filho, da Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), há dois fatores que empurram para a internacionalização: os rankings mundiais, em que, “para subir, é preciso ser uma universidade global”, e, intimamente ligada a isso, a própria globalização: “a gente forma um engenheiro aqui, mas ele vai trabalhar fora, por isso é uma demanda do mercado que ele tenha essa formação multicultural, fale pelo menos duas línguas.”
O professor explica que a Unicamp "já nasceu com vocação internacional", devido à presença de professores que tinham essa experiência. No entanto, a universidade encontra dificuldades para cumprir essa tendência na prática. “A meta do reitor que assumiu é que 30% dos alunos tenham possibilidade de fazer intercâmbio. Mas é difícil”, afirma Pissolato Filho.
De acordo com o professor, uma universidade pode ganhar o rótulo de internacional se tiver, pelo menos, 15% de intercambistas. Segundo ele, o percentual da Unicamp fica por volta de 10% atualmente. Para buscar soluções para este problema, de um ano para cá a universidade criou um Grupo de Trabalho de Internacionalização, ligado à reitoria. O objetivo é subir as metas e transformar a universidade em internacional.
Na Unesp (Universidade Estadual Paulista) o desafio é a descentralização: a universidade está em processo de implantar um escritório de relações internacionais em cada um dos 23 campi espalhados pelo interior de São Paulo. Os titulares já foram indicados, e os escritórios estão ativos em unidades que contavam com estrutura anterior. Na maioria dos campi, no entanto, ainda não há essa estrutura – e a meta é organizá-la até o final deste ano, conta José Celso Freire Júnior, assessor de relações externas da Unesp. “Com isso, a ideia é conseguir junto à reitoria estratégias de internacionalização pra construir os programas. Hoje em dia, os projetos são tratados totalmente na reitoria, em São Paulo.”
De acordo com o professor, a Unesp conta com um atrativo para os estrangeiros: “Como a Unesp está em cidades pequenas, muito parecidas com as cidades de onde vêm os intercambistas, a violência não é uma questão premente [como nos grandes centros], temos qualidade de vida”. Fonte: UOL / Educação