Assim como os adolescentes rumam para a universidade em fevereiro e em março, o pessoal que já passou dos 60 deixa a poltrona de casa para se acomodar nos bancos escolares. São as turmas das universidades para a terceira idade, que reúnem o pessoal que já se aposentou, mas que não quer parar de aprender. "É um curso de extensão cultural, que não exige diplomas ou certificações", explica o coordenador do curso para a terceira idade do Centro Universitário Sant´Anna, Antônio Jordão Netto.
O curso na faculdade paulista dura dois anos, porém, se o quiser, o aluno pode continuar fazendo outras atividades, que são criadas para esse pessoal que não quer voltar à velha rotina. "Tem gente que está aqui há 10, 11 anos. É um processo de educação permanente em que a pessoa não só se atualiza como melhora a sua autoestima, a sua autoimagem e a sua qualidade de vida", orgulha-se Jordão Netto, que lamenta não ter tempo para participar das atividades que ele próprio coordena, aos 73 anos, por pura falta de tempo.
Ao preencher as tardes dos alunos com disciplinas como português, geografia, música, cinema, informática e atualidades, a ideia não é formar profissionais, e sim estimular quem já passou da fase de se preocupar com mercado de trabalho. Entre as universidades para terceira idade, a quantidade de horas/aula, as disciplinas e a idade mínima para participar do curso mudam de acordo com a instituição.
Porém, todas têm em comum o foco na qualidade de vida. "Aqui é proibido dizer ´no meu tempo´. O passado é importante, mas o meu tempo é agora. A sua vida atual tem que se basear na atualidade", diz Jordão Netto.
Para o coordenador da UniSant´Anna, essa é uma nova safra de idosos, que viu a educação como um caminho possível e interessante nessa fase da vida. "Viram que poderiam se reciclar e ali encontrar novas motivações de vida. São pessoas que já estão com os filhos encaminhados e têm a necessidade de sair daquela rotina do trabalho doméstico e de cuidar dos netos", conta.
A coordenadora da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade de Guarulhos, Líslei Freitas, completa: "Geralmente são pessoas que já perderam os seus companheiros, mas nem sempre. É gente que quer sair de casa, procurar conhecimento. Não é só lazer, eles querem mesmo aprender."
Marly Rodrigues, 64 anos, faz parte dessa turma que resolveu deixar o tricô para as horas vagas. Há 12 anos, foi com uma amiga conhecer o curso da UniSant´Anna e não saiu mais de lá. Depois de criar as duas filhas, ficou com muito tempo vago. "Fui encontrar uma atividade para preencher esse vazio", relembra. E o esforço valeu a pena. "Tenho um grupo de amigos que conheci ali e nos vemos inclusive fora da faculdade", diz. A empolgação foi tanta que hoje Marly ajuda a coordenação do curso na organização dos eventos da escola. "Faz bem pra mim, porque eu faço bem para outras pessoas", resume a aluna dedicada.
Como Marly, outros alunos consideram o curso um divisor de águas na vida. "Antes de entrar, os próprios alunos acham que pessoas com mais idade têm que ficar em casa, quietinhas. Hoje a reclamação deles é que tem muitas férias, porque queriam ter aula sempre", ri Jordão Netto. Muitos estudantes até deixaram de ter problemas como pressão alta, ansiedade e depressão. "Não é só a saúde mental que melhora, a física também. Eles dizem que isso aqui é um renascer, e as famílias encaram a iniciativa de maneira muito positiva".
Fonte: Portal Terra