Empresas de TI adotam estratégias diferenciadas para atrair e reter novos funcionários. O setor enfrenta um déficit de 100 000 trabalhadores

Imagine uma área de atividade em que há mais empregos do que profi ssionais. E isso não é culpa dos salários baixos, já que em média um trabalhador desse setor ganha 6 000 reais por mês. Só há uma exigência: você precisa dominar a técnica e, quanto mais qualifi - cado, melhor.

Já adivinhou qual é o setor? Isso vem acontecendo na área de tecnologia da informação (TI), cujos profi ssionais desenvolvem programas e dão suporte a outras áreas que dependem dos computadores e sistemas de uma companhia, ou seja, a empresa inteira.

"O setor tem cerca de 800 000 trabalhadores e faltam outros 100 000", diz Luís Mário Luchetta, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro). E as empresas estão cada vez mais desenvolvendo projetos que envolvem tecnologia. "Fora isso, muitas multinacionais vieram para o Brasil."

Ao todo o país tem 6 000 empresas, 94% delas de micro ou pequeno porte. O analista de sistemas paulistano Rubens Del Monte, de 27 anos, é um exemplo de quem está se dando bem em TI. Ele terminou a faculdade em 2007 e é gerente de projetos da consultoria espanhola Indra. "Nunca fi quei desempregado", diz o analista. Ele fez curso de aperfeiçoamento na Venezuela e na Espanha.

E agora pode receber uma promoção lateral, ocupando outro cargo de gerente na empresa, ou virar diretor. Ao contrário de muitas outras carreiras em que, por exemplo, saber dominar uma reunião já conta pontos, em TI o que vale mesmo é o aprendizado. "A melhor maneira de crescer é ter um conhecimento técnico.

Quanto mais certifi cados de conclusão de curso, melhor", afi rma. A Indra optou por testar esses conhecimentos dando preferência a jovens talentos e os treinando até que estejam preparados. "Só em 2011 já abrimos 200 vagas e devemos abrir outras 200 até dezembro", diz Osvaldo Pires, diretor de RH da empresa. A companhia procura jovens de 19 a 24 anos que tenham formação em cursos de tecnologia.

Os salários para quem começa lá beiram os 2 800 reais. Um profi ssional sênior ganha 6 000 reais. "Agora, se a especialidade dele for mais requisitada, se ele dominar o sistema SAP, esse valor sobe para 10 000 reais." Há dois anos, o paulistano Diego de Paula Ferraz, de 26 anos, começou a trabalhar na empresa. Mandou currículo, fez os testes e passou. Recebeu três promoções, é líder de equipe e o salário subiu 60% desde que conseguiu entrar na companhia.

Como existe escassez de bons profi ssionais, as empresas levam meses para preencher as vagas na área de TI. A Itautec chega a fi car com uma vaga em aberto por até três meses e meio. "Há dois anos, levávamos 15 dias para encontrar um bom profi ssional", diz Eduardo Pellegrina, diretor de RH da empresa. E atenção aos salários: na Itautec o contracheque de quem trabalha com TI vai de 1 200 reais a 20 000 reais. "Quanto mais especializado, mais valorizado é o profi ssional desta área", diz Eduardo. "Hoje, temos 160 vagas em aberto." Dos 6 000 funcionários da companhia, 3 500 estão no departamento de TI.

Assim como em outras organizações do setor, a Itautec vê com bons olhos jovens recém-formados. Na última seleção de trainees, 5 000 candidatos se inscreveram para concorrer a 50 vagas. "Esta é uma das melhores maneiras para se formar um profi ssional", diz Eduardo. Esta também é a técnica adotada pela Telefônica. "Temos de atrair universitários para formá-los. É isso, ou fi car roubando profi ssionais de outras empresas", diz Françoise Trapenard, diretora executiva de RH da companhia.

POR QUE FALTA GENTE?
A leitura de Françoise é de que há uma desvalorização da carreira técnica. "Os jovens simplesmente não querem seguir esse caminho", afi rma. Resultado: ela leva mais do que o dobro do tempo para fechar uma vaga em TI em relação a outras áreas.

Na BRQ IT Services, valem duas regras para descobrir novos talentos: os tradicionais testes de seleção e a indicação de funcionários da casa. "Os jovens não sabem que esta carreira é bacana e que não há desemprego. Hoje, tenho 2 500 funcionários e preciso contratar mais 250", afi rma o presidente da empresa, Benjamin Quadros. A Tivit avalia profi ssionais em três aspectos: conhecimento técnico, acadêmico e competências comportamentais.

"Algumas tecnologias que deixaram de fazer parte da grade curricular, mas que ainda são buscadas pelas empresas, são boas opções de especialização, como a linguagem Cobol e Mainframe", diz Marcello Zappia, diretor de desenvolvimento humano e organizacional.
  Fonte: Portal Você S/A 

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