25/04/2011 - Leitura correta de estatísticas mostra solidez da oferta de postos; problema agora é o efeito da escassez de mão de obra na pressão inflacionária O nível de emprego segue bem, muito bem. O problema é outro. Na última semana, foram divulgados números aparentemente contraditórios sobre o comportamento do emprego. De um lado, o Ministério do Trabalho mostrou que em março foram criadas 92.675 mil vagas com carteira assinada, bem aquém do verificado nos meses anteriores. Já o IBGE divulgou um forte crescimento da ocupação -incluindo vagas formais e informais- e uma nova redução da taxa de desemprego, que ficou perto de 6% em março (ajustada para fatores sazonais). A contradição é apenas aparente: a economia continua firme. Os dados do ministério merecem qualificações. A forte desaceleração em março, diante das 281 mil vagas abertas em fevereiro, decorre de fatores atípicos: a semana do Carnaval, que caiu em março, dificulta uma leitura clara do mês. Considerando o primeiro trimestre, a economia gerou pouco mais de 175 mil colocações por mês, em média. Trata-se de um ritmo ainda forte e apenas um pouco aquém da média próxima de 200 mil vagas mensais observada em 2010. É provável que em abril o resultado volte a ser robusto. Os dados do IBGE não deixam dúvida sobre o dinamismo do mercado de trabalho. Além do desemprego perto do mínimo histórico, a ocupação total, com ou sem carteira, continuou em alta acima dos 2% anuais. É uma variação superior à da população ativa, que cresce entre 1% e 1,5% ao ano. A massa nominal de salários (que agrega a variação do emprego com a do rendimento) cresceu 12,5% nos 12 meses encerrados em março -um ganho real de 6%, descontada a inflação. No segundo semestre há concentração de dissídios salariais, e espera-se forte ganho real, entre 3% e 5%, para a maior parte das categorias. A economia, portanto, segue firme, impulsionada pelo crescimento do emprego e da renda, o que é positivo. Mas há riscos importantes. Crescem as evidências de escassez de mão de obra, qualificada ou não, em vários setores. O mercado de trabalho apertado é hoje uma fonte importante de pressões inflacionárias, especialmente no setor de serviços, cujos preços crescem acima de 8% ao ano. Se antes era baixo o risco de reindexação mais generalizada da economia, ou de ideias como gatilhos salariais, agora já não é. O histórico de atrelamento da economia à taxa de inflação não permite desvios de conduta. Se a inflação chegar a 7% ou 8% -não seria essa a trajetória atual, no cenário do Banco Central-, não é inconcebível que apareçam, por exemplo, pressões por reajustes salariais semestrais. Todos sabem aonde isso vai e como termina. |
Fonte: Folha de São Paulo |