Capacidade instalada na indústria, porém, chega a 85,5%, nível mais alto desde agosto de 2008
Para atender ao crescimento expressivo da demanda, a fabricante de tintas Sherwin Williams aumentou entre fevereiro e abril em mais de 10% o número de empregados na produção, de 900 para pouco mais de 1 mil, além de ter recorrido a horas extras. "Por enquanto, essas contratações foram suficientes para dar conta da demanda, mas é possível que tenhamos que elevar em mais 2% ou 3% o pessoal até o fim do ano se a atividade continuar forte", diz o presidente da empresa, Mark Pitt. Segundo ele, com essas medidas, que ocorrem simultaneamente a investimentos habituais em troca de máquinas para desenvolvimento de novos produtos, a Sherwin Williams driblou eventuais gargalos de produção.
Na Ford, a inauguração de uma nova linha de motores em dezembro de 2009 dobrou a capacidade de produção desses itens, para 500 mil unidades por ano. Além disso, contratou neste ano 200 horistas para trabalhar na área de estamparia em São Bernardo do Campo e mais 109 engenheiros. "Nós tivemos algumas dificuldades com suprimentos, mas foram pontuais", afirma o diretor de relações governamentais da Ford para a América do Sul, Rogelio Golfarb, contando que a empresa também recorreu a horas extras.
Essas têm sido algumas das estratégias adotadas pelas empresas para enfrentar a demanda aquecida. Ainda assim, não têm sido suficientes para impedir a alta do nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) na indústria de transformação, que subiu de 84,9% em maio para 85,5% em junho, segundo números com ajuste sazonal da sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV). "É o nível mais elevado desde agosto de 2008 e consideravelmente acima da média histórica", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que acredita, porém, numa evolução mais tranquila nos próximos meses. O recorde, de 86,7%, foi alcançado em junho de 2008. Entre 2004 e 2008, quando a economia cresceu com força, a média foi de 84%.
O Nuci segue muito pressionado no setor de material para construção. Em junho, subiu para 91,7%, um pouco acima dos 91,6% do mês anterior. É o recorde da série iniciada em 1993. A atividade no setor está muito forte, tanto no
segmento residencial como no de infraestrutura, dada a retomada do investimento.
Pitt diz que a demanda mais forte pelos produtos da Sherwin Williams na primeira metade de 2010 veio do segmento industrial. O setor havia sofrido muito nos primeiros meses do ano passado, por causa do impacto da crise global, e agora mostra recuperação mais firme. Otimista, Pitt espera expansão do faturamento superior a dois dígitos neste ano.
No setor de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos), a ocupação de capacidade dá sinais de acomodação. Ficou em 89% em junho, depois de ter batido em 90,9% em maio. O fim da vigência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos e eletrodomésticos da linha branca ajuda a explicar o movimento. Os fabricantes diminuíram um pouco o nível de produção, já que houve antecipação do consumo nos primeiros meses do ano.
Golfarb diz que a Ford não teve problemas para atender a demanda. Além das contratações e horas extras e do investimento na nova linha de motores, ele observa que ainda não houve uma forte retomada das exportações. Com isso, parte da produção que seria destinada ao mercado externo atendeu a demanda interna. De janeiro a maio, as vendas domésticas da Ford cresceram 14,6% sobre o mesmo período de 2009.
No segmento de bens intermediários, que engloba insumos como aço e produtos químicos, o Nuci ficou em 86,3% em junho, inferior aos 86,5% de maio. É um número que segue abaixo dos 87,4% da média de 2004 a 2008. No setor de bens de capital, a utilização de capacidade aumentou de 82,8% em maio para 83,2% em junho. Apesar da alta, é bem menos que os 89,6% de julho de 2008, no pico do pré-crise. A concorrência externa, num cenário de câmbio valorizado, contribui para a recuperação mais modesta do Nuci do setor.
Fonte: Valor Econômico