Esse é o número de vagas em tecnologia da informação que não serão preenchidas, segundo estima o setor. Evasão dos cursos é parte da explicação; engenheiro de software é um dos profissionais raros no mercado CAMILA FUSCO - DE SÃO PAULO O setor de tecnologia da informação deve atingir neste ano o maior deficit de profissionais de sua história. Segundo estudo da Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), obtido pela Folha, neste ano 92 mil vagas não serão preenchidas. O número representa crescimento de cerca de 30% ante os registros de 2010. O deficit é superior também ao enfrentado por indústria e construção, que precisam de, pelo menos, 60 mil engenheiros por ano e formam 32 mil pessoas. Parte da explicação do deficit em TI vem da alta evasão dos cursos universitários. Dos mais de 580 mil universitários que ingressam em cursos de tecnologia, apenas 85 mil se formam todos os anos. "O mais alarmante é que eles são disputados não apenas por empresas do setor, mas por companhias que enxergam na tecnologia um ganho de competitividade", afirma Sergio Sgobbi, diretor de Recursos Humanos e Tecnologia da Brasscom. A escassez atinge todos os níveis profissionais. A HP Brasil, por exemplo, está com quase 550 vagas abertas para oito regiões do Brasil, em áreas de computação corporativa, serviços de tecnologia e terceirização. Algumas das mais difíceis de serem preenchidas incluem consultores de tecnologia, arquitetos e engenheiros de software. "Só para pesquisa e desenvolvimento, parte importante do negócio no Brasil e que também cria soluções para serem exportadas, são 60 vagas abertas", diz Oscar Clarke, presidente da HP. A corrida pelo profissional de TI está inflacionando os salários. Quem não quer enfrentar um índice de rotatividade na casa dos 30% precisa pagar mais, principalmente no Sudeste. Segundo estimativas de mercado, programadores com experiência ganham, em média, R$ 7.500 em São Paulo e R$ 5.000 no Rio. Em outros centros, a média salarial está em R$ 3.000. REORGANIZAÇÃO Transferir equipes técnicas para outras regiões é a opção para muitas empresas. A Autômatos, empresa paulistana de software de segurança e infraestrutura, encontrou em Florianópolis o local ideal para instalar seu centro de desenvolvimento. Depois de comprar uma empresa local na cidade, decidiu transferir parte de sua força de trabalho do Rio e de São Paulo para a capital catarinense. Por lá, a empresa criou a Universidade Autômatos, que prepara estudantes de tecnologia. "Hoje, dos 180 funcionários, 60% estão em Florianópolis. Foi uma alternativa para fugir da pouca oferta de mão de obra e evitar o assédio de outras empresas que querem contratar profissionais do gênero", diz Moyses Rodrigues, presidente da Autômatos. Com foco no centro de desenvolvimento catarinense, a empresa projeta crescimento de 50% em 2011 e faturamento de R$ 60 milhões. Frases "Até 2020 serão contratados 750 mil funcionários de TI. Para abastecer todos os setores seria necessário quatro vezes mais" SÉRGIO SGOBBI diretor da Brasscom "Sair de São Paulo foi uma alternativa para fugir da falta de mão de obra" MOYSÉS RODRIGUES presidente da Autômatos asil precisa de convergência digital maior DE SÃO PAULO Além de patinar na formação de profissionais, o Brasil caminha a passos lentos em direção à convergência digital, de acordo com o índice da Brasscom, que mede os avanços tecnológicos de um país. Em uma escala que varia de zero a dez, o Brasil atingiu 6,75, pequeno avanço ante os 5,85 registrados em 2008. Entre as áreas com maiores deficiências está a aplicação de tecnologias na educação. Apenas 57% dos alunos matriculados no ensino fundamental estudam em escolas com acesso à internet, considerando instituições públicas ou privadas. Um dos problemas mais graves, porém, inclui a infraestrutura de conexão em banda larga. O país tem hoje uma das mais baixas velocidades de acesso à internet do mundo, média de 1,3 Megabit por segundo (Mbps), menos de 10% do que registra a líder mundial Finlândia, que apresenta 19,2 Mbps. O Brasil também está atrás de países como Rússia, EUA e México. "Esse é um desafio com a chegada dos tablets, que precisarão de uma infraestrutura que suporte tráfego pesado de dados e vídeo", diz Nelson Wortsman, da Brasscom. (CF) |
Fonte: Folha de São Paulo |