Com a economia brasileira aquecida e as empresas crescendo, este é o momento perfeito para você negociar com seu chefe aquele reconhecimento que ficou congelado durante a crise do ano passado

Se você quer pedir um aumento ou negociar uma promoção, faça isso já. Poucas vezes em sua carreira você deve encontrar um cenário tão favorável. A previsão dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça algo entre 6% e 7,5% neste ano. Só no primeiro trimestre de 2010 as companhias de capital aberto (exceto Vale e Petrobras) tiveram um lucro líquido 57% maior do que os números do mesmo período do ano passado, segundo dados da empresa de pesquisa Valor Data.

"Hoje, no Brasil, todos os setores estão crescendo muito, incluindo a indústria", diz Carlos Alberto Ramos, professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB). Um dos efeitos mais importantes desse crescimento é a criação de novos empregos. O Ministério do Trabalho estima que serão abertas 2,5 milhões de vagas em 2010. Outro efeito positivo deve ocorrer sobre os salários.
A Mercer, consultoria de recursos humanos, de São Paulo, estima que o salário base cresça em média algo entre 7% e 8% este ano, para compensar uma provável inflação de 5%. "Acho que está mais para 8%", diz Christian Pereira, consultor sênior de capital humano da Mercer. Os bônus também devem aumentar: a estimativa é de que 80% das empresas paguem mais do que a meta estipulada.
As promoções também estão em alta, graças à escassez de gente qualifi cada. "Em fase de expansão, as companhias dão prioridade para o funcionário que elas já conhecem", diz Vicente Picarelli Filho, consultor de capital humano da Deloitte. Se você atravessou a crise internacional, que durou até meados do ano passado, há mais um bom argumento para negociar com seu chefe: seu comprometimento com a empresa. Depois de muito esforço e corte de custos, a maioria delas fechou 2009 com bom desempenho.

"Em 2009, os profissionais tiveram seis meses para atingir as metas que eram para o ano todo, ou seja, praticamente trabalharam em dobro", diz Lucia Costa, sócia-diretora da consultoria Mariaca, de São Paulo. Se você teve um desempenho pessoal bom nos últimos meses, um reconhecimento é mais do que justo. Então, corra atrás. "Os profissionais precisam contar para a companhia o que desejam", diz Renata Blazec, consultora da Hewitt. "Para isso, devem estar bem preparados para a conversa." Use as próximas páginas para montar sua estratégia e conquistar o reconhecimento que você busca — e merece.
LUIS EDUARDO GONZAGA, 36ANOS, diretor de vendas da Sony Ericsson

Em dezembro do ano passado, o administrador paulista Luis Eduardo Gonzaga, de 36 anos, foi promovido de gerente a diretor de vendas da Sony Ericsson, fabricante de telefones celulares, com um aumento de 50% na remuneração. Na conquista, Luis usou a cultura da empresa e o estilo gerencial do chefe a seu favor.

Quando foi sondado para a vaga, seis meses antes da promoção, o líder da sua área, um sueco, queria saber se Luis estava preparado para o cargo. Conhecedor do estilo direto do chefe e do valor que a companhia dá para relações transparentes, o executivo montou uma apresentação pessoal.

No documento, mostrava como havia superado suas metas. Depois, propôs ao chefe definir alguns objetivos de desenvolvimento para os seis meses seguintes. "Só combinei o que poderia cumprir, para não comprometer minha credibilidade", diz. Concluído o período de preparação, Luis atingiu tudo o que foi proposto e conquistou a segurança do chefe. Em dezembro assumiu o novo cargo.

1- AVALIE SUAS CHANCES
Todo mundo acha que merece ganhar mais. Talvez você realmente mereça. Mas, antes de entrar na sala do chefe para negociar salário, promoção ou um benefício qualquer, é preciso avaliar quais são as chances de sair de lá com o objetivo conquistado.

Pesquise como anda seu ibope. Essa análise vai evitar que você se desgaste desnecessariamente com o chefe, fique com fama de leviano ou, pior, coloque seu emprego em risco. "Quando o mercado está aquecido e a oferta de vagas é grande, as pessoas tendem a perder o senso de realidade e acham que podem colocar a companhia contra a parede", diz a professora Betania Tanure, da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. Um bom começo é olhar o mercado. Como sua empresa passou pela crise? Como foi o resultado da companhia em 2009 e como tem sido este ano? Há contratações? Há projetos de expansão e abertura de novas unidades? As respostas devem dar indícios das perspectivas da empresa e, consequentemente, das suas.
Por exemplo: se a organização não vive um bom momento, é preciso ser mais cauteloso; se está crescendo e a disputa por vagas e aumentos é grande, você precisará reunir bons argumentos para se diferenciar dos outros candidatos.

Estar em dia com a qualificação profissional também é importante. De nada adianta um mercado aquecido se você não está preparado para aproveitar as oportunidades que surgem. "Muitos profissionais têm ânsia de crescer rápido e acabam esquecendo que também precisam se sustentar na posição", diz Pedro Roberto Almeida, diretor de gente e relações corporativas da ALL.
"As empresas valorizam o cara que traz resultados de maneira contínua." Um bom exercício é olhar para o lado. Seus pares — dentro e fora da companhia — entregam mais ou menos do que você? A formação acadêmica e a experiência deles é igual ou superior à sua? Você tem alguma competência valorizada no mercado que o diferencia? "As pessoas acham que ganham menos do que deveriam, mas não têm o hábito de trocar esse tipo de informação com outros profissionais, logo, não têm referência objetiva do valor do seu trabalho", diz Silvio Celestino, sócio da Alliance Coaching.

RESULTADO VIRA MÉRITO NA ALL

Na ALL, empresa de transporte ferroviário com sede em Curitiba, Paraná, o reconhecimento está ligado ao desempenho. A cada três meses há avaliação com feedback formal.

O profissional pode negociar todo o tipo de reconhecimento: cursos e treinamentos frequentes, job rotation, mudança de área e remuneração variável mais agressiva. Mas só recebe alguma coisa se comprovar o resultado. "Quem vai negociar tem de estar preparado para ser avaliado", diz Pedro Almeida, diretor de gente e relações corporativas da empresa.

"Valorizamos o profissional que traz resultados, de forma ética, que seja engajado como dono do negócio e que seja ambicioso" Pedro Roberto Almeida, diretor de gente e relações corporativas da ALL

2 - VAI CONVERSAR COM O CHEFE? PREPARE-SE
Se você chegou à conclusão de que está na hora certa de negociar um salto na carreira, é preciso se preparar para conversar com o chefe. "É um momento difícil para todos os profissionais, até mesmo do alto escalão, mas o segredo é reunir argumentos e estruturar as ideias", diz José Roberto Ribeiro do Valle, presidente da Scotwork Brasil, empresa de consultoria e treinamento em negociação.

A primeira coisa a fazer é defi nir o objetivo — um aumento, uma expatriação, um MBA ou uma equipe maior. Com essa "lista de desejos" nas mãos você consegue ser mais objetivo na abordagem e não perde o rebolado caso o chefe ofereça outra coisa em troca. Certifique-se de que o que você pede está dentro da realidade. Se for um aumento, confi ra se seu salário é compatível com o de seus pares, dentro e fora da empresa, por exemplo.

"Remuneração 20% acima ou abaixo da média do mercado é considerada adequada às faixas salariais", diz Silvio Celestino, sócio da consultoria Alliance Coaching, de São Paulo. É preciso reunir argumentos que mostrem ao chefe o que o reconhecimento trará de resultado à companhia e à equipe. Reivindicar um benefício simplesmente por achar que merece não é suficiente. Reúna dados, fatos, relatórios e tudo o que possa tornar sua fala menos subjetiva.

O administrador Roberto Lopes dos Santos, de 36 anos, diretor-geral da Libra Terminais, usou essa tática no ano passado para convencer o chefe a contratar mais um profissional para sua equipe, mesmo com queda de 18% no volume de negócios da empresa.
Ele juntou informações que mostravam o tamanho e a relevância dos projetos. Uma pessoa a mais na equipe signifi ca, para Roberto, a oportunidade de trabalhar melhor e se destacar. "Consigo me dedicar mais a outras atividades", diz ele. Falar sobre seu desempenho é fundamental. Cuidado apenas na forma de usar esse argumento, porque o chefe pode entender que atingir a meta é obrigação.

Além disso, não deixe de falar sobre seus resultados futuros. Segundo Donald Mac Nicol, professor do Ibmec e especialista em negociação, os resultados passados são importantes para embasar o discurso, mas o fundamental é o que você vai entregar dali pra frente. Conhecer o comportamento do chefe também ajuda. Saber se ele é formal ou informal, objetivo ou subjetivo, permite definir uma abordagem mais adequada na hora da conversa.
  Fonte: Você / SA 

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