As empresas querem a metade das pessoas trabalhando o dobro para produzir o triplo. Conheça quatro dicas essenciais para sobreviver nesse cenário
Qual será o limite para os funcionários trabalharem? As empresas parecem procurar por essa resposta desde que inseriram as palavras downsizing (enxugamento de pessoal) e reengenharia no jargão de RH no início dos anos 1990. Segundo Christina de Paula Leite, professora da FGV-Eaesp, até os anos 1980, 30 cargos separavam um operário do presidente da empresa. Hoje, entre as duas pontas há seis níveis hierárquicos.
No Brasil, o desequilíbrio de forças entre patrão e empregado é ainda maior por causa do enfraquecimento das leis trabalhistas e da alta taxa de desemprego. "Estamos passando por uma revolução tão profunda quanto a Revolução Industrial", diz Nelson Mannrich, advogado trabalhista e professor da USP. Nessa revolução, a produtividade é medida minuto a minuto, incansavelmente.
E ninguém sabe ao certo onde isso vai dar. Na Inglaterra, uma em cada seis pessoas empregadas trabalha pelo menos 60 horas por semana. Há dois anos, essa proporção era de uma em oito. Ou seja, no mundo todo está cada vez mais difícil encerrar o expediente a tempo de jantar com a família.
As pessoas não conseguem planejar o próprio futuro
Equipes agressivas O headhunter Luiz Carlos de Queirós Cabrera, sócio da PMC e professor da FGV, em São Paulo, faz uma analogia que resume bem o que está acontecendo com o mercado de trabalho. Ele costuma dizer que nossas empresas são como um time de futebol que viu as regras mudarem no meio do jogo. Para vencer, é preciso ter uma equipe mais agressiva, com um olho na bola e o outro no placar. "As pessoas estão tirando fôlego do fundo da alma para manter a empolgação de antes", afirma Luiz Carlos. E qual será o resultado? "Se as empresas não encontrarem uma saída, haverá uma queda abrupta nos balanços financeiros, e isso será estrutural."
Na área operacional das empresas, há anos os computadores se mostraram mais eficientes e rápidos do que muitos operários. Mas há estudiosos que não costumam associar tecnologia ao desemprego. "Quando se perde uma vaga numa fábrica, se ganha outra em serviços´, diz o consultor Marcio Pochmann, especialista no estudo do trabalho. Em meio a tanta pressão, quem decide repensar a carreira pode chegar a uma conclusão estarrecedora. "As pessoas não conseguem planejar o futuro e ficam apavoradas", diz Vicky Bloch, coach e consultora de carreira. Trocar de emprego nem sempre é uma solução. A cobrança por resultado é basicamente a mesma em todas as empresas. O que muda é a maneira como ela é feita — e você pode ter um papel fundamental na transformação da própria realidade. Os especialistas dão os seguintes conselhos:
4 PASSOS PARA DIMINUIR A PRESSÃO NO TRABALHO E PLANEJAR SEU FUTURO
1 APRENDA A NEGOCIAR
Se o chefe é truculento, dê sinais de que você prefere conversar com calma até chegar a uma solução viável. João Lins, especialista em recursos humanos, sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers, acredita que há cada vez mais espaço para negociação nas empresas. "Vivemos num mundo de interdependência. As companhias dependem de profissionais motivados, que por sua vez dependem delas para sobreviver e se realizar profissionalmente", diz
2 SAIBA DIZER "NÃO"
A administradora de empresas Débora Spanholeto, de 29 anos, de Campinas (SP), descobriu um jeito de dizer que está atolada de trabalho. "Quando vejo que não vou dar conta, pergunto a meu chefe qual é a prioridade", diz. "Meu limite é a cobrança exagerada. Quando isso acontece, tento me organizar." Ela é bastante disciplinada e identificou seu limite, aquela linha tênue que separa a alegria de um dia carregado de tarefas motivadoras daqueles cheios de pressão excessiva. Na hora de dizer "não", os especialistas recomendam: evite frases do tipo "Não aguento mais", "Estou com muito trabalho" ou "Não tenho tempo de tocar mais um projeto". "Todo chefe prefere que os funcionários apresentem o problema e uma ou duas soluções viáveis", diz Regina Madalozzo, professora do Insper São Paulo e especialista em mercado de trabalho.
3 DIVIDA RESPONSABILIDADES
Se ultimamente você tem sentido dores pelo corpo e as pessoas à sua volta passaram a reclamar do seu mau humor e intolerância, fique atento. Pode ser um sinal de que a pressão no trabalho esteja invadindo a vida particular. "Aprenda a delegar, negocie projetos, redistribua a carga de trabalho", ensina Joel Dutra, professor da Fundação Instituto de Administração, de São Paulo. A princípio pode parecer difícil confiar um projeto ao colega do lado. Mas lembre-se que você pode continuar no comando sem centralizar todas as etapas.
4 MANTENHA-SE MOTIVADO
A consciência de que funcionários cansados e desmotivados fazem mal para os negócios já chegou a algumas empresas. Na multinacional Procter & Gamble a reação veio na forma de um plano de carreira capaz de dar perspectiva de longo prazo. "Sempre perguntávamos aonde o funcionário queria chegar e deixávamos claro como ele poderia crescer", diz Monica Santos Longo, ex-gerente de recursos humanos da empresa. Infelizmente, companhias assim ainda são exceção. Porém, o exemplo sinaliza que há uma alternativa que concilia o desejo das pessoas com o lucro. Esse modelo de negócios requer uma nova relação de trabalho. Como qualquer transição, não se trata de um momento fácil ou confortável para os envolvidos. O jeito é ter muita paciência para negociar o que se deseja.
Fonte: Portal Você S/A