uso da rede em prol da comunidade

Talvez, nesse Brasil 2.0, a política, vista de tão longe pelos jovens, possa ficar muito mais próxima deles

A ONU (Organização das Nações Unidas) decidiu disseminar mundialmente uma experiência desenvolvida por brasileiros, batizada de "Votenaweb". É uma daquelas soluções simples e baratas: uma plataforma na internet fornece didaticamente informações sobre os projetos em tramitação no Congresso, permitindo uma votação virtual, acessível a todos, com direito a debate. Dali se podia medir, por exemplo, o monumental apoio a iniciativas como a exigência de ficha limpa aos candidatos.

Lançado em novembro de 2009 pela Webcitizen, o projeto ganhou a adesão da ONU depois de ser apresentado em Washington, no mês passado, em uma conferência sobre como usar os meios digitais para facilitar o acesso a informações públicas -a Nasa, o Google e a IBM eram alguns dos expositores. Além de ser um modelo fácil de ser multiplicado, o "Votenaweb" é um jeito óbvio de entrar nas redes sociais e de tentar atrair os jovens para a política. Pode-se dizer que é quase um jogo interativo.

Nessa experiência, estamos vendo jovens que, seduzidos pela tecnologia da informação e distantes dos partidos políticos e dos clichês ideológicos, fazem uma rebelião digital contra a falta de transparência no uso dos recursos públicos. Será que estaria aí um Brasil 2.0?

Com mestrado em transparência pública e tecnologias, Daniela Bezerra da Silva ajudou a formar o grupo batizado de "Transparência HackDay". "Há uma enorme desproporção entre a capacidade dos governos de serem precisos quando cobram impostos e a de serem precisos quando prestam informações", diz ela.

O que se quer, em síntese, é ter acesso não só aos relatórios publicados na internet, a maioria deles desinteressantes e incompreensíveis, mas também aos dados primários. Estes são devidamente traduzidos e, depois, divulgados pela rede. É aí que entra a habilidade de navegação pelos computadores.

Desse grupo de rebeldes digitais nasceu uma investigação sobre a prestação de contas dos vereadores de São Paulo, apresentada sem detalhamento na página da Câmara Municipal. Descobriu-se com precisão como e quanto gasta cada um dos parlamentares.
As descobertas foram aproveitadas por outro movimento digital, batizado de "Adote um Vereador": um grupo de pessoas "adota" um vereador, que é acompanhado diariamente por uma página da internet conectada às redes sociais.

Entrou-se no banco de dados do Serviço de Atendimento ao Cidadão de São Paulo. Nessa base, são registradas as queixas da população, que, entretanto, não tem como acompanhar o encaminhamento dado a elas. Conseguiu-se montar um mapa das reclamações bairro a bairro -viu-se, aliás, que os ricos reclamam mais do que os pobres.

Para enfrentar esse problema, o projeto Urbanias recebe as reclamações dos moradores paulistanos, publica-as em um site e acompanha o processo nas repartições municipais. Assim, o cidadão consegue seguir, passo a passo, o trâmite da sua demanda.

O site "Cidade Democrática" desenvolve fóruns em inúmeras cidades brasileiras, em que se apresentam queixas e soluções para problemas locais. Estudantes da cidade de São Paulo mapearam os recursos existentes em torno de suas escolas e, com base nesses dados, montaram blogs. Os blogs foram para um portal único, que, batizado de "Palco Digital", vem convertendo as cidades em espaços de aprendizagem - o projeto agora é disseminado em todo o Brasil pelos ministérios da Educação e da Cultura.

Esses são apenas exemplos de como as novas tecnologias conseguem remodelar a relação dos cidadãos com o poder, a começar da esfera local. A rebelião digital não só integra um movimento mundial de transparência mas também fomenta o uso da tecnologia da informação para criar comunidades mais inteligentes.

Talvez, nesse Brasil 2.0, a política, com seus palácios e envelhecidas tribunas, vista de tão longe pelos jovens, possa ficar muito mais próxima deles -graças à disseminação das redes sociais, tão próximas como a tela do computador.

PS - Você pode conhecer melhor essas e outras experiências no site webcidadania.org.br

GILBERTO DIMENSTEIN

gdimen@uol.com.br

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