Jovens são recrutados no ensino técnico
Dos cerca de 1.600 funcionários próprios da mina de Brucutu, 150 são moradores de São Gonçalo. O número só não é maior por falta de mão de obra qualificada. O mecânico Daniel de Oliveira, de 22 anos, conta que foi recrutado no momento em que se matriculou no curso técnico.
“Decidi trancar a faculdade de engenharia ambiental porque vi uma oportunidade de crescimento profissional imediata no quintal de casa. Agora sou um estudante com profissão e salário”, diz o jovem que integra a turma de 58 trainees que atuam hoje em Brucutu.
Na oficina da mina, Daniel atua na manutenção de máquinas cujo pneu chega a ter 2,7 m de altura. “Foi amor à primeira vista. Ver pessoalmente uma máquina assim é muito impactante", diz o aprendiz, que pretende agora investir na carreira de engenheiro mecânico.A abertura da mina atraiu também moradores de outras cidades. O operador de escavadeira, Anivaldo Nunes dos Santos, de 45 anos, veio de Sabará (MG) e conseguiu um emprego para o filho no setor de perfuração. “Minha irmã fala que vai fazer um curso de elétrica para também entrar na Vale”, diz Maycon Alves dos Santos, de 22 anos.
Pai e filho são hoje parceiros de trabalho e de sala de aula. Maycon convenceu o pai a entrar junto na faculdade de Logística. Mas como não há faculdade em São Gonçalo, os dois estudam na cidade vizinha João Monlevade. “Tem várias provas doidas, mas temos que aproveitar as oportunidades para crescer na empresa”, diz.
A assistente administrativa, Gleiciele Araújo, de 28 anos, recorda que o seu primeiro emprego em Brucutu foi como auxiliar de produção. “Era serviço de peão, com luva e capacete”, diz. Hoje, é dela o maior salário da família. “Meu marido não gosta de ouvir isso, mas é verdade”.
Moradora da cidade há 19 anos, Gleiciele diz que São Gonçalo é outra hoje. “Mudou praticamente tudo. Não tinha nada aqui”, diz. Ela só reclama de ainda ter que sair da cidade para poder cursar uma faculdade ou buscar atendimento médico especializado.
Como ainda não há hospital ou maternidade no município, os moradores precisam ir até outra cidade para ter um filho. "A gente brinca que ninguém nasce em São Gonçalo, mas acho que isso vai mudar", diz Gleiciele.
Por dentro da mina
Escondida atrás das montanhas que cercam a área urbana de São Gonçalo do Rio Abaixo, com estradas exclusivas para o acesso ao complexo, a mina parece uma cidade a parte.Ao todo, a Vale investiu US$ 1,1 bilhão em Brucutu. No total, foram gerados cerca de 8.500 empregos pelo Complexo Minas Centrais na região, incluindo os municípios de Barão de Cocais, Itabira, João Monlecade e Santa Bárbara. Hoje, trabalham na mina cerca de 2.500 pessoas, entre empregados próprios e contratados.
A mina é a maior do mundo em capacidade inicial de produção: 30 milhões de toneladas por ano, volume atingido pela primeira vez em 2010, quatro anos depois da inauguração do complexo. Em 2006, a produção inicial foi de 7,75 milhões de t.
“A Mina de Brucutu produz cerca de 30 milhões de toneladas por ano e responde sozinha por 10% da produção total de minério de ferro da Vale no Brasil”, afirma Júlio Yamacita, gerente geral do Complexo Minas Centrais, que conta ainda com as minas de Gongo Soco e Água Limpa. Em Brucutu tudo é gigantesco, começando pela área de extração: são 3,5 milhões de metros quadrados licenciados, o equivalente a 17 estádios como o Mineirão, em Belo Horizonte (MG).
A cava de perfuração possui 2,5 km de comprimento e mais de 150 m de altura. Vista do alto, a cratera parece mais um cenário cinematográfico de exploração fora da Terra. A impressão é de estar num planeta cinza e vermelho. “Aqui só há duas estações: lama e poeira”, brinca um técnico.Os equipamentos utilizados para transportar o minério são de dimensões colossais. O que mais impressiona é o chamado caminhão fora de estrada, com 8m de altura e de largura. Ao todo, são 16, com capacidade para transportar até 240 toneladas de minério. O preço de uma máquina dessas gira em torno de US$ 3 milhões.
Brucutu é uma das minas de maior concentração de ferro e, portanto, de maior lucratividade da Vale. De cada 5 caminhões que são carregados dentro da cava, 3 são de minério de ferro e dois são de material estéril, sem valor comercial.
“Temos que tirar pouco material para poder tirar o minério em si e isso faz com que a mina tenha um custo muito baixo e uma alta produtividade”, diz Yamacita. “Brucutu já está operando na sua capacidade máxima e agenta pelo menos mais 25 anos nesse ritmo de produção".
Como a Vale detém na Serra de Brucutu muita área ainda não licenciada para exploração, Brucutu ainda pode trazer boas surpresas para a população da região. "Se tiver demanda, vamos buscar alternativas para a produção se manter nesse patamar”, afirma o gerente da mina. Fonte: Portal G1