Empresas têm dificuldades para preencher os cargos mais qualificados

JORDANA VIOTTO - DE SÃO PAULO

Uma equação não bate no mercado de trabalho: nos últimos anos, muito se tem falado em carência de mão de obra qualificada em áreas como engenharia, finanças e tecnologia da informação.

Do outro lado do balcão, diversos profissionais com currículos de peso não conseguem emprego compatível com suas habilidades.

No meio desse aparente paradoxo, duas explicações: as vagas se concentram em alguns nichos - em engenharia, por exemplo, os holofotes estão em civil e petróleo, em detrimento de outras - e os requisitos exigidos para ocupar os postos estão acima da média do mercado.

O diretor-presidente da Progen, de projetos de engenharia industrial, Eduardo Barella, confirma a primeira tese. "Faltam profissionais experientes em certas áreas, como petróleo e gás", diz.

Para um recém-formado que "se destaca", a empresa oferece salário de R$ 4.500.
De olho em chances como essa, engenheiros de outras áreas, como José Roberto Elias Jr., 44, tentam migrar. Ele terminou em março a especialização em petróleo e gás na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Engenheiro eletricista pelo Instituto Mauá de Tecnologia, fez duas pós-graduações em áreas de gestão, afirma ter nível avançado em inglês e conta com experiência em multinacionais de TI. Mesmo assim, não conseguiu emprego na nova área. Não faltou proatividade: enviou currículo para 50 contatos, mas não obteve retorno. "Esperava sair do curso com propostas. Estou disposto a mudar de Estado."

Vagas visam ao candidato 100% pronto

Imediatismo faz empresas buscarem o tipo "Super-Homem", diz consultor

DE SÃO PAULO

Se as empresas se queixam da baixa oferta de profissionais qualificados, há quem aponte que elas estão sendo exigentes demais em seus critérios de seleção.
Segundo Gil Van Delft, diretor da consultoria Page Personnel, o crescimento econômico é, em parte, responsável pela situação. "As organizações têm pressa em contratar e buscam um profissional que esteja 100% pronto, o tipo Super-Homem", pontua.

Ou seja, alguém com diploma de instituição renomada, dois idiomas estrangeiros, experiência no mercado e múltiplas habilidades comportamentais, como capacidade de comunicação, liderança e proatividade. Nesse cenário, contudo, as opções ficam reduzidas. "É preciso flexibilizar e buscar alternativas para médio e longo prazos", assinala Fernando Mantovani, diretor da consultoria Robert Half.
A Totvs, especializada em softwares de gestão, percebeu a necessidade de ser maleável em relação a certos requisitos. Lá, idiomas estrangeiros são exigências para muitas posições, mas não há objeção quanto ao nome da instituição em que o candidato cursou a graduação.

"O importante é ter pessoas que queiram "carregar o piano" conosco", diz Maria de Fátima Albuquerque, diretora de relações humanas. Dessa forma, justifica, a empresa não sofre com carência de mão de obra.

AULA NA EMPRESA
A gerente de recrutamento e seleção da Andrade Gutierrez, Monalisa Trouquim, diz que a empresa também abre mão de um requisito técnico quando a seleção fica difícil.

A sugestão de Felipe Calixto, diretor-presidente da fabricante de software Sankhya, é que o mercado se engaje na preparação de pessoal. A empresa criou sua própria universidade corporativa. "A qualificação aumenta a competição entre os profissionais e evita a inflação dos salários", afirma. Eduardo Pelegrina, diretor de RH da Itautec, concorda. Para ele, a formação deve envolver também características comportamentais. "É mais complexo, mas não impossível." Ele indica "feedback" e "job rotation" (rotatividade entre as funções) como ferramentas.

Frase

"Enquanto o candidato deve ter em mente as demandas de mercado e se preparar para elas, a empresa tem de definir com precisão o que vai esperar dele no dia a dia"
RODRIGO SOARES
gerente da Hays

Mais experientes também ficam de fora de suas áreas

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Não são só os recém-formados que encaram barreiras ao buscar bons empregos. Quem já desenvolveu habilidades que por vezes faltam aos jovens também se depara com obstáculos. O engenheiro eletrônico Luis Carlos Moreno, 48, é um dos ue querem voltar ao mercado, em desenvolvimento de produtos.

Ele trabalhou por 14 anos em uma fábrica que foi fechada devido à entrada de importados em massa no país. Em 1998, foi para o departamento comercial.
Paulo Caggiano, 54, deixou a gerência de um banco em 2006, após 20 anos, porque sua unidade foi extinta. "Busquei recolocação, mas não consegui", lamenta ele, que é contador -uma das profissões com maior deficit de contratações segundo o Ministério do Trabalho.

Salários são baixos, dizem profissionais

Para engenheiros desempregados, vagas existentes oferecem condições incompatíveis com o que exigem

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"Não recebo resposta nem de montadoras, em que trabalhei durante dois anos. Não consigo entender." Diante da suposta urgência do mercado em contratar profissionais de sua área, o engenheiro de controle e automação Rodrigo Oliveira, 24, estranha o fato de estar desempregado há dois meses -um tempo que seria razoável em outros setores.

Mesmo com diploma de instituição de primeira linha, estágios em grandes empresas, inglês avançado e vivência no exterior, Oliveira e, segundo ele, alguns ex-colegas têm tido dificuldade de achar boas oportunidades.
"Há propostas de R$ 1.500, que, com descontos, representam menos do que se ganha em estágios", assinala.

Profissionais de tecnologia também enfrentam dificuldades. Cássio Murakami, 29, é formado em sistemas de informação e diz ter experiência em grandes projetos. No entanto, é outro fora do mercado há dois meses. "Meu currículo foi elogiado por colegas com cargo de gerência, mas é preciso ter indicação", considera.
O setor em que Murakami atua, aliás, "tem mais trabalho para engenheiros que a própria engenharia", na análise do engenheiro Fernando, 29, que pediu para não ter o sobrenome publicado. "A remuneração é menor."

Do lado das empresas, há uma reclamação frequente sobre o nível técnico dos recém-formados que, por exemplo, deixam a faculdade sem dominar cálculo.
"Sabem usar a tecnologia, mas não desenvolver fórmulas", diz Orli Machado, presidente da C&M Software.

Frase

"As empresas enfrentam um forte crescimento e querem pessoas com a melhor formação. De preferência, que estejam 100% prontas"

GIL VAN DELFT
diretor da Page Personnel

MERCADO VERSUS
PROFISSIONAIS

O que falta nos profissionais, segundo as empresas

- Capacidade de expressão verbal
- Conhecimento em idiomas estrangeiros
- Cultura geral
- Espírito de liderança
- Habilidade para trabalhar em equipe
- Iniciativa
- Investimento em atualização

Os problemas das empresas, segundo os profissionais

- Falta de clareza sobre o cotidiano na hora da contratação
- Falta de "feedback"
- Falta de plano de carreira
- Investimento na formação e adequação à empresa
- Muitas exigências
- Salários baixos em relação às responsabilidades
Fontes: Andrade Gutierrez, Atento, C&M Software, Ceva Logistics, Manpower, Racional Engenharia, SindRio, Tivit e entrevistados

EXIGÊNCIAS ATUAIS
PARA PROFESSORES

- Qualificar-se em cursos de graduação (letras, pedagogia ou educação), pós-graduação ou mestrado
- Buscar certificação internacional (como Celta e Icelt, na área de metodologia, e CAE ou CPE, na de proficiência)
- Estar antenado com a tecnologia como ferramenta de ensino (vídeos on-line, podcasts e sites, por exemplo)
- Conhecer diversas metodologias e abordagens, como a comunicativa e a lexical
- Conhecer e aplicar conceitos de ensino afetivo e neurolinguística
- Buscar aperfeiçoamento constante
- Entender a responsabilidade social do professor
Fonte: Folha de São Paulo
 

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