O norte-americano Robert Crumb, criador de sucessos como “Fritz the cat”, diz ter aversão por seu país natal e como não pode mudar de planeta se contenta em morar em Paris

Um dos mais importantes e influentes criadores de quadrinhos do mundo, o norte-americano Robert Crumb deixou de lado a sua aversão por jornalistas e, por 45 minutos, expôs sua visão do mundo. Uma visão muito pessimista, por sinal. “Tenho vergonha de viver no planeta Terra”, disse. “Mas não tem jeito”, suspirou, fazendo uma de suas famosas caretas.

Se não pode viver em outro planeta, ao menos fora dos Estados Unidos Crumb consegue. Estabelecido desde 1991 no sul da França, o artista falou muito do seu desprezo pelo país natal. “Não quero voltar aos Estados Unidos. Tenho vergonha de dizer que sou americano.”

Na visão do criador de “Fritz the cat”, “Mr. Natural” e, mais recentemente, de uma versão do Gênesis em quadrinhos, o presidente Barack Obama é bem intencionado, mas não terá capacidade de fazer muita coisa. “Os Estados Unidos viraram um estado corporativo fascista”, disse Crumb, sem alterar o tom suave de voz. “É um dos piores países do mundo. Obama não pode fazer muito. Estamos em perigo”.  

Uma das maiores atrações da Festa Literária de Paraty, Crumb dividirá uma mesa com o também artista Gilbert Shelton no próximo sábado, às 19h30. Os ingressos para o evento se esgotaram em questão de minutos.

Mas Crumb não faz a menor ideia do que está fazendo em Paraty. “É bizarro. Me vejo como alguém que não deve ser levado a sério. Me dá medo ser levado a sério”, disse. O artista conta que perguntou a seu editor brasileiro, Rogério de Campos, da Conrad: “Por que estou aqui? Por que fui convidado?” Segundo ele, Campos explicou: “Porque é um negócio”.

Crumb também disse que considera “muito estranho” ver o seu trabalho exposto em galerias de arte e comercializado a preço de ouro. “Não me dou muito bem com o mundo da arte, mas tenho bastante material original para vender”, disse.

“Sou um artista do século 19”, disse, referindo-se às novas tecnologias e aos livros digitais. “Não tenho interesse em tecnologias modernas, 3D. Gosto de papel e tinta”.   Sua agente, e também mulher de Shelton, Lora Fountain, disse que tem recebido pedidos de editores interessados em comercializar o trabalho de Crumb em livros digitais, mas acha que ainda não chegou a hora. “O que temos é bom para livros normais, mas não para quadrinhos. Estamos aguardando o desenvolvimento de tecnologias melhores”.   Questionado sobre o que mais não gosta, além de dar entrevistas, Crumb riu: “Câmeras fotográficas, aeroportos, controle de segurança. Gosto de ficar anônimo. Gosto de observar, não de ser observado”.   Crumb e Shelton causaram alguma decepção ao afirmarem que conhecem pouco o trabalho de jovens quadrinhistas. Indagado especificamente sobre Dash Shaw, Crumb foi seco: “Nunca ouvi falar”. Mas ambos deram conselhos a jovens artistas. “O mercado tem de tudo, grandes e pequenas editoras”, disse Crumb. “Se você é jovem e faz algo verdadeiramente diferente, é sempre difícil de publicar. Tem que batalhar se você faz, de fato, um trabalho original”. Ao que o criador dos “Freak Brothers” acrescentou: “E é importante ter um trabalho durante o dia para se manter e desenhar à noite. E morar com a sua mãe”.   Fonte: UOL 

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